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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Certeza?


Sozinha e discreta, ela estava sentada na mesinha simples do café. Vestia a combinação perfeita de jeans e camiseta branca. O cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo mal feito, e usava óculos escuros com a lente bem preta, que era pra ninguém ver seus olhos. Sem maquiagem. Ela não tem paciência.
Era uma tarde quente e o sol brilhava alto às quatro da tarde, mas a brisa balançava as árvores de um jeito mais forte do que o normal. Era agosto.
Apesar do calor, ela bebia o seu habitual cappuccino de avelã. Estava com os fones e a playlist do celular seguia normalmente. Acho que estava tocando aquela do John Mayer. Ou não. Porque ela ouvia, mas não escutava nada. Era impossível. Os pensamentos gritavam mais alto do que qualquer junção de letra e melodia.
Era aquela indecisão. Aquela que a acompanhava desde uma certa chuva de novembro num ano qualquer do início da década de 90. Por causa dela, a moça já sofreu, chorou, mudou de ideia, fez um monte de merda, se arrependeu e voltou atrás. Já tentou consertar milhares de coisas. Às vezes dava certo; e às vezes não. Por causa dela, essa moça já perdeu muita coisa e muita gente. Alguns voltaram; e outros não.
Mas pra tudo na vida há um lado bom, e essa mesma indecisão já a impediu de fazer muita coisa muito pior. Apesar da ansiedade constante, a moça sempre foi muito controlada. Às vezes até demais; às vezes até de menos. Tudo é questão de perspectiva.
É que às vezes essa indecisão sufoca, aperta o peito, bagunça a mente, cansa o corpo e tira o foco. Quase sempre. É uma questão de urgência. Urgente. Ela quer tudo e todos na mesma hora, e ao mesmo tempo tem medo de mudanças bruscas.
O jeito é deixar o tempo passar sem pressa, deixar o vento levar pra longe os medos e preocupações. Aprender a conviver com as angústias. Aceitar a vida que tem, ou se apaixonar pelas mudanças. Viver os dias com a certeza de que não tem tudo o que quer, mas que sempre deu o seu melhor pra conseguir aquilo que possui.
Pensando assim ela levanta da mesa, paga o café, e sai à rua indiferente, decidida (até virar a esquina), com a certeza de que não tem nenhuma certeza na vida. E essa é a única certeza que ela tem.

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